20 de abril de 2015

Comunicação e relação de casal ...

“Communicare” significa pôr em relação, em comunhão, a tornar comum, permitindo a cada um dos elementos do casal conhecer-se enquanto indivíduos e enquanto “nós”. Este nós é determinado pelo comportamento de cada elemento do casal porque duas pessoas em presença uma da outra têm um comportamento ou outro. Num casal, por vezes, o determinismo individual tem consequências na dinâmica do casal porque o funcionamento individual é determinante no funcionamento do casal. Há indivíduos que têm problemas psíquicos e/ou psicológicos que têm que ser tratados em psicoterapia e não em Terapia de Casal.
 
O Nós do casal, como todas as relações entre duas pessoas, pode ser:
Simétrico – os indivíduos tendem a reflectir o comportamento do outro, minimizando as suas diferenças e amplificando as semelhanças comunicacionais, ou seja, cada um dos elementos do casal luta para «ser igual» (ou «não ser menos» que o outro) ou
Complementar – o comportamento de um sujeito complementa o do outro, maximizando-se as diferenças existente entre ambos, ou seja, a relação é estabelecida sobre as diferenças recíprocas entre os elementos do casal, sendo que um ocupa a posição superior, de quem define a relação, e outro ocupa a posição inferior, aceitando a definição do outro.
 
Quando há distorções destes nós, o que acontece é que no nós simétrico há uma rivalidade entre os dois elementos do casal para que os dois dominem a situação e, isso acaba por criar frustração nos dois. No nós complementar, aquele que aceita a definição do outro, complementa-se a este de forma tão disfuncional que se acaba por anular enquanto pessoa e o outro tende a manipular todas as situações. Assim, para que a relação de casal funcione é necessário que esta seja simétrica em algumas áreas e complementar em outras, que balance entre os dois nós, de forma funcional para o casal. A partir do momento em que as coisas se tornam disfuncionais, a relação do casal não funciona porque não há um equilíbrio entre os dois elementos do casal.
 
A comunicação refere-se tanto à parte verbal (as palavras que utilizamos = aspectos racionais) como à parte não-verbal (a nossa apresentação, a forma como posicionamos o nosso corpo e utilizamos a nossa voz, o nosso comportamento = aspectos emocionais). É impossível não comunicar porque tudo aquilo que dissermos ou fizermos, consciente ou inconscientemente, intencional ou não intencionalmente, verbal ou não verbalmente, constitui a comunicação. Como refere Madalena Alarcão “a comunicação humana é constituída por sinais verbais, corporais e comportamentais. Se observarmos do exterior uma interacção entre duas ou mais pessoas, podemos notar que certas sequências se repetem e que os mesmos comportamentos se implicam mutuamente.”
 
A falta de comunicação (seja ela verbal ou não verbal) entre os elementos do casal pode tronar-se um problema bastante grande que muitas vezes leva ao fracasso do seu relacionamento amoroso. Há casais que não têm problemas nenhuns a comunicar com o outro conseguindo partilhar o que pensam, o que sentem, as suas opiniões, valores, necessidades, frustrações, as suas alegrais, sucessos, aspirações, sonhos e desejos; e há outros, que não o conseguem fazer, nem pelas palavras, nem pelos gestos, comportamentos ou atitudes.
 
Como diz Daniel Sampaio, o problema é que as pessoas não discutem a relação. Quando há discussões entre o casal, discute-se sobretudo como cada elemento do casal satisfaz o outro ou não, estando muito voltadas para si mesmas. O amor dura para sempre, desde que seja construído ao longo do tempo, que ambos os elementos do casal se consigam colocar no lugar do outro e percebam o que o outro está a sentir: se se sente bem com o que o outro elemento do casal faz ou não.
Um casamento dá trabalho, constrói-se ao longo do tempo e não é um mar de rosas, como muitas pessoas pensam ou idealizam. Sim, claro que se pode tornar num mar de rosas, mas para isso acontecer exige esforço de ambos os elementos do casal. O amor é cuidar, é sentir as necessidades do outro mais como se fossem as do próprio. Podemos igualar o casamento a uma simples planta, planta esta que necessita de ser regada por cada elemento do casal; quando isto não acontece, e só um dos elementos do casal a rega, a planta já não reconhece a importância do outro. Acontece o mesmo num casamento. As acções feitas, os comportamentos tidos, as palavras ditas determinam o desenvolvimento de um casamento e se todas estas coisas só são feitas por um dos elementos do casal, o casamento deixa de estar equilibrado.
Aí surgem os desconfortos, as discussões, as meias palavras, os sinais, os comportamentos pouco naturais, os amuos, a agressividade verbal, o evitamento, o revirar os olhos, etc. Já não há comunicação eficaz. Há apenas uma corda a ser puxada entre os dois elementos para ver quem é que ganha.
 
É importante que entre si o casal fale, discuta, esclareça, partilhe, se coloque no lugar do outro, tolere, respeite, para que consiga esclarecer os conflitos existentes, os diferentes pontos de vista do casal Nesta partilha, não tem que haver nem vencedor nem vencido, o mais importante é que haja uma comunicação comum, o que cada um sentiu perante o comportamento do outro.Esta partilha levará a conversas sobre as fragilidades da relação e à responsabilização do casal como um todo e, não a acusações individuais a cada um dos elementos do casal. Havendo uma comunicação comum, as mudanças pequenas ou grandes, acontecem e, a mudança que acontece num dos elementos potencia a mudança no outro elemento do casal.
 
Assim é necessário “criar pontes … criar cumplicidades … criar pontos de entendimento” para que se crie uma relação harmoniosa. Temos que pensar que há sempre solução, há sempre saída, há sempre uma esperança que as coisas melhorem.
 
E em jeito de conclusão, tal como referiu Nelson Mandela “Se falares a um homem numa linguagem que ele compreenda, a tua mensagem entra na sua cabeça. Se lhe falares na sua própria linguagem, a tua mensagem entra-lhe directamente no coração.”

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